A estrutura do povoado castrejo

Povoado Castrejo

A estrutura do Povoado Castrejo

Desde as primeiras escavações arqueológicas realizadas em Tongobriga, foram reconhecidas várias construções que habitualmente se encontram nos povoados a que chamamos “castros”, característicos da época em que se deu a integração desta região no Império Romano.

Essas construções pétreas de planta circular surgiam aparentemente isoladas e dispersas, desmanteladas até ao alicerce ou reduzidas a meros negativos talhados na rocha granítica. A destruição a que tinham sido sujeitas, em época romana, pela intensa urbanização do espaço disponível, impedia que se tivesse melhor perceção da sua organização e distribuição espacial.

Uma outra construção tipicamente castreja – um balneário do género dos que são conhecidos como “pedra formosa” – foi descoberta junto às termas romanas. Também este balneário havia sido soterrado, depois de inutilizado pela construção das termas. Nada mais se conhecia sobre este povoado castrejo. E nem mesmo os materiais usados pelos seus habitantes pareciam ter resistido ao tempo.

Porém, nos últimos anos, este desconhecimento tem sido atenuado por várias descobertas que já nos permitem, atualmente, ter uma imagem mais nítida de como seria esse castro cuja memória quase foi apagada pela civilização romana.

Tal como acontece com todos os povoados do mesmo género, a área habitada do castro de Tongobriga estava cercada por uma muralha, cuja função, além de defensiva, poderia ser também de delimitação e vedação. Essa muralha estava rodeada por um fosso exterior – ainda hoje percetível nas encostas norte e sul – e abrangia uma área superior a 13 hectares, o que a coloca no grupo dos castros de maiores dimensões.

No interior desse perímetro amuralhado, mas nunca fora dele, encontram-se construções graníticas de planta circular, com e sem vestíbulo, e outras construções menores de formas diversas que tinham pátios em seu redor, por vezes lajeados, e estavam cercadas por muros, correspondendo a núcleos familiares dispostos ao longo dos caminhos que estruturavam o povoado. A julgar pelos cálculos já realizados para outros povoados de dimensões semelhantes, Tongobriga poderia albergar mais de centena e meia destas unidades domésticas, acomodando mais de dois mil habitantes no seu interior.

Se o castro de Tongobriga teve um outro recinto amuralhado em torno da sua acrópole, não o sabemos. Mas parece ter tido uma outra muralha, exterior à que já foi referida, delimitando um amplo espaço situado na base da sua encosta sul, espaço esse que não possuía habitações, mas que nem por isso deixava de ter um papel muito importante para a comunidade que aí habitava.

É nesse espaço, extramuros, que se situa, como é habitual, o balneário da “pedra formosa” – que depende da existência de água para funcionar. Essa ampla área cercada dispunha de água em abundância e é habitualmente interpretada como espaço disponível para apascentar e recolher o gado, para além de outras atividades importantes para a subsistência da comunidade. Seria esta mesma superfície que viria a merecer a construção de um monumental recinto de planta retangular, cuja localização não podia espelhar melhor a vital função económica que viria a desempenhar para os tongobricenses.

Fora das muralhas e à margem do caminho, dois outros elementos estruturais que se conhecem ainda mal: a necrópole, cujos elementos conhecidos mais antigos são já reflexo do modo romano de encarar os mortos; e um possível santuário rupestre, do qual resta apenas a memória de um antigo símbolo solar, do género dos tríscelos que tão bem caracterizam a fase final da cultura castreja, cuja existência a memória popular eternizou com o nome de “São Solimão”.