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A integração no Império Romano

soldado

A Integração da Callaecia no Império Romano

Situemo-nos em Tongobriga e recuemos até ao último quarto de século antes do nascimento de Jesus Cristo.

Há mais de um século que as populações autóctones haviam tido os primeiros contactos com os romanos, desde que as campanhas militares comandadas por Decimus Iunius Brutus (138 – 136 a.C.) passaram o Douro e chegaram ao Lima, o “rio do esquecimento”. Desde então que se faziam sentir os efeitos da integração desta região nos circuitos comerciais do Império.

A região litoral a Norte do Douro terá sido definitivamente submetida ao domínio político romano com as campanhas de César, em 61 – 60 a.C. A partir de então, a Callaecia, conformada à pax romana, tornou-se particularmente importante para a estratégia militar que permitiria, décadas mais tarde, a conclusão do processo militar de integração da Hispania no Império Romano.

As sublevações dos Ástures e Cântabros, no extremo Norte da Hispania, levaram o recém-entronizado Imperador Augusto (27 a.C. – 14 d.C.) a organizar as operações militares conhecidas por Bellum Cantabricum, que culminaram em 19 a.C. com a definitiva conquista e pacificação da Península Ibérica.

Particularmente importantes para a região em que Tongobriga se insere, deverão ter sido as campanhas de 26 / 25 a.C., nas quais participou o próprio Augusto, o Princeps.

A estratégia militar utilizada pelas legiões romanas ficou conhecida como “dupla tenaz combinada”: por um lado, um ataque terrestre desde o acampamento-base em três colunas, uma central e duas pelos flancos; por outro, uma intervenção marítima desde o Cantábrico para cortar a retirada aos Cântabros e aprovisionar o seu próprio exército.

A coluna que progrediu pelo flanco ocidental para atacar o território dos Ástures em 25 a.C. terá atravessado o território da antiga Callaecia (actual Norte de Portugal e Galiza). Embora não haja notícias concretas, esta coluna terá passado na região de Tongobriga, rumo à zona de Braga, onde são cada vez mais abundantes os testemunhos de presença militar romana e onde é possível que se tenha instalado uma base de aprovisionamento.

Será este facto que explica o achado, em Tongobriga e noutros locais do Norte de Portugal, de adereços identificados com a presença de legionários romanos, como as fíbulas tipo Alesia, e em especial um tipo de moeda romana que foi uma cunhagem especial, ordenada pelo Governador da Hispania Ulterior, Publius Carisius, e relacionada com estas campanhas militares. Trata-se de um tipo de moneta militaris, com a figura de uma caetra (escudo defensivo, usado pelos guerreiros calaicos) no reverso.

Embora já antes de Augusto e das suas vitoriosas campanhas se reconheça a presença, ainda escassa, de objetos que provam a integração desta região nos circuitos comerciais do Império; e apesar de muitos reconhecerem na formação dos grandes povoados castrejos e na sua organização “proto-urbana” – como em Tongobriga – mais do que uma reação autóctone ao invasor, o efeito da ação política deste último; a verdade é que é sobretudo a partir de Augusto que nesta região verdadeiramente se processa a profunda transformação a que chamamos “romanização”. Mas esse seria um longo processo que se iria prolongar pelas gerações seguintes.