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O Balneário da Pedra Formosa

Balneário romano

O Balneário da “Pedra Formosa”

O mais emblemático edifício de Tongobriga pré-romana que chegou até aos nossos dias é um balneário que, não sendo monumento único no contexto da última fase da chamada “cultura castreja do noroeste peninsular”, se distingue de todos os outros por ser totalmente escavado na rocha granítica. Insere-se numa área em que são abundantes os negativos de outras construções, provavelmente feitas com materiais perecíveis, sinal de que o balneário estaria integrado num conjunto mais vasto de estruturas, hoje desconhecidas.

Provavelmente construído em torno dos inícios da era cristã, ter-se-á mantido em uso até ao último quartel do século I d.C., mais concretamente até à edificação das termas romanas.

Trata-se de um edifício destinado a banhos e integra-se num bem conhecido conjunto de estruturas similares que corresponde, sem dúvida, aos locais onde, segundo Estrabão (autor romano do século I d.C.), se tomavam “banhos de vapor produzido por pedras aquecidas”.

É possível que fossem de acesso restrito, limitado aos que tivessem lugar na celebração de rituais de iniciação, marcados pela função purificadora da água, de que será sinal a serpente esculpida na rocha do pavimento da sala de entrada do balneário de Tongobriga, em posição clara de saída da câmara de sauna, com a cabeça voltada para o exterior, como que representando a expulsão do maligno por via da exposição ao vapor quente.

Em Tongobriga, o balneário usufruía da água que escorria pela encosta em condutas também rasgadas na rocha granítica. O edifício propriamente dito era constituído por quatro espaços distintos.

Um primeiro espaço aberto, um pequeno pátio ou átrio lajeado, no qual sobressaía a presença de pequenos tanques de água fria, através do qual se acedia a uma primeira câmara subterrânea;

Essa primeira sala, escavada na rocha, dispunha de bancos, também eles talhados no granito, e constituía uma espécie de antecâmara de espera para o acesso à sauna. Esta sua função, como sala onde se aguarda a vez de forma mais ou menos prolongada, condiz com a necessidade dos bancos. A separação entre esta sala e a seguinte é a que costuma receber as tão famosas “pedras formosas” que deram o nome a este tipo de monumentos. Em Tongobriga, a decoração da “pedra formosa”, muito semelhante à da Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira), não é das mais exuberantes, tendo um singelo encordoado a toda a volta da abertura;

Pela exígua abertura da “pedra formosa” – acedia-se a uma segunda câmara interior, retangular, que era o espaço de sauna propriamente dita, na qual teriam lugar os rituais já referidos. No lado oposto, uma abertura para a última câmara, permitia a passagem do vapor; Por fim, um terceiro espaço, de planta circular, interpretado como “fornalha” ou câmara de produção de calor. Nela seriam depositadas pedras previamente sobreaquecidas, que serviam para produzir vapor quando sobre elas fosse vertida água fria.

É possível que, no Baixo Império, o balneário tenha servido para outras funções. Assim o dá a entender a abertura de uma nova passagem acima da original e a inversão da “pedra formosa”.

Acresce uma outra alteração, simbólica, que aponta para a probabilidade de o interior do balneário ter estado descoberto e visível até bem mais tarde: a cristianização da serpente, através da gravação de uma cruz que lhe afetou a zona da cabeça, num sinal claro de que a sua presença foi interpretada, em ambiente cristão, como prova da celebração de rituais “pagãos” cuja memória era necessário anular.