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A Feira da Quaresma

Feira da Quaresma

A Feira da Quaresma

A Feira da Quaresma documenta-se desde 1518, o mesmo ano em que o rei D. Manuel I determinou o encerramento do Convento de São Salvador de Tuias. Assim, celebrou-se já o 500º aniversário do mais antigo documento que sobre a feira nos chegou. O que não significa, de todo, que só então ela se tivesse iniciado.

Já nessa altura era tradição que a feira se realizava desde tempos imemoriais. Diziam então as freiras de Tuías, promotoras da feira e suas diretas senhorias, que a mesma já se realizava há “dez trinta quarenta cinquenta sessenta oitenta cento duzentos anos até agora”. Sinal de que, nos inícios do século XVI, ninguém se recordava já da sua origem.

Porém, não sendo uma feira de iniciativa régia e realizando-se no couto de um convento, sempre escapou ao controle de reis e senhores e à máquina fiscal do Estado, pelo que não consta de nenhum registo oficial. Seria certamente abundante a documentação que sobre ela existiria no cartório do convento de Tuias, um tesouro que, infelizmente, não chegou até nós.

Os rendimentos que ela proporcionava no século XVI são excecionais. No século XVII, ainda era das maiores feiras do Norte de Portugal. No século XVIII, ainda atraía mercadores de longínquas paragens, como a Galiza e o reino de Castela. Mas nessa altura já são frequentes as queixas dos mercadores e foreiros de que a feira se encontrava arruinada e já não rendia o mesmo.

Quanto mais antigos são os documentos, maiores são as rendas da feira e maior a importância que se lhe dá. O que significa que a feira que eles nos revelam é já uma feira em franco declínio. E a sua época áurea já há muito se tinha finado. O que condiz com todos os outros indicadores sobre a remota origem desta feira: quando começa a ser revelada, já o lugar em que ela então se realiza, a aldeia de Santa Maria do Freixo, é um quase completo deserto, não dispõe dos mais básicos recursos – entre muitos outros, de água – para acolher milhares de pessoas, carece de qualquer importância económica, está afastado dos principais circuitos económicos locais e regionais e é tudo menos um lugar adequado e preparado para albergar uma grande feira.

Quão remota era a sua origem? Não sabemos. Mas suspeitamos. Certo é que só no século XVII se passou a realizar no centro da aldeia, em torno da igreja de Santa Maria. Até então, realizava-se em local ermo, junto de um edifício a que chamavam “Ermida de Nossa-Senhora-A-Velha” – nada menos que as velhas termas romanas –, no interior de um recinto que sempre teve – e continuava a ter – a mesma função: a de albergar um mercado periódico de âmbito regional.

Esse recinto fechado, que hoje conhecemos como “forum de Tongobriga”, pensado e construído nos inícios da nossa era, já serviria tal propósito numa época em que a Quaresma ainda não o era. Talvez já então a feira se realizasse na mesma altura do ano, a do equinócio da Primavera, em que se celebrava a ressurreição da natureza e ainda não a de Cristo – o que explicaria o absurdo de uma feira – e respetiva farra – com a carne como “cabeça-de-cartaz”, a começar numa sexta-feira, na Quaresma, e promovida por um convento de freiras…

Prazo de 1557 relativo a Feira da Quaresma (Cartório do convento de São Bento de Avé-Maria) (ADP)A sentença de extinção ditada em 1834 às comunidades religiosas; a ascensão do lugar do Marco a sede de concelho em 1852; a abertura da estrada nacional para a Régua, na década de 1870, que marginalizou o Freixo e lhe desviou o sustento; o encerramento, em 1892, do convento de São Bento de Avé-Maria, que administrou a feira ao longo de quatro séculos; e, a partir de 1894, a privatização, por leilão em hasta pública, dos terrenos em que ela se realizava; não podiam ter outro desfecho que não o fim da feira da Quaresma no Freixo.

Em 1905, foi transferida para a sede do concelho, mas perdeu, definitivamente, o sentido que o seu lugar de origem lhe dava. E acabou. De vez?