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Tongobriga Romana

Península Ibérica

A afirmação de um lugar central

É certo que só alguns dos povoados castrejos do Noroeste peninsular atingiram as dimensões e a organização que Tongobriga alcançou nos inícios da era cristã. Para além das dimensões consideráveis, da provável existência de mais do que um circuito de muralhas e pelo menos um fosso defensivo, e da sua localização estratégica com um espaço de reunião e de trocas na base do povoado, Tongobriga foi munida de um balneário dotado de uma “pedra formosa”, algo de que só as citânias ou os castros mais importantes se poderiam orgulhar.

A organização urbana da época ainda está, em grande parte, por conhecer, e não é expectável que a população dispusesse de quaisquer sistemas de abastecimento de água, drenagens, esgotos ou qualquer outra infraestruturação do espaço. Mas haveria já uma organização em bairros “familiares”, cada um contendo um conjunto de edificações diferentes com funções distintas (à semelhança do que tem vindo a ser observado em povoados congéneres).

Tanto quanto se conhece destes grandes aglomerados proto-urbanos, eles são já contemporâneos da integração desta região no império romano, embora possam, como neste caso, ser o resultado da transformação de um povoado mais pequeno, de origem anterior.

Ocupando sítios estratégicos e privilegiados, criam-se grandes aglomerados cuja urbanização, com arruamentos tendencialmente ortogonais e obedecendo a um plano prévio, é cumprida num curto espaço de tempo, fazendo parte de um fenómeno de concentração demográfica conseguido à custa dos efetivos populacionais dos pequenos povoados pré-existentes dentro de um determinado território ou de migrações internas na sequência de campanhas militares romanas, desde as campanhas sertorianas às de Augusto, que culminam com a efetiva conquista e pacificação do Noroeste peninsular e adoção do modus vivendi dos romanos.

Cada um destes oppida estruturava um território que podemos associar a um “principado centralizado”, liderado por um chefe guerreiro que não raras vezes aparece representado em estatuária. Estas unidades territoriais teriam, por sua vez, correspondência com uma unidade étnica que em muitos casos se reflete na toponímia posterior, já que está demonstrado um elevado grau de correspondência entre essas unidades, as paróquias suevas do século VI e os julgados da Baixa Idade Média.

Será o caso de Tongobriga e dos tongobricenses que nos aparecem alguns séculos mais tarde toponimicamente refletidos na paróquia sueva de Tongobria. Talvez uma análise espacial da distribuição espacial das paróquias do século VI revelasse também dados interessantes para o estudo do território dos tongobricenses.

É um lugar comum entre os historiadores e arqueólogos assumir que esta concentração populacional que leva à formação dos grandes oppida do século I d.C. é um fenómeno patrocinado, senão diretamente promovido, pelas autoridades imperiais romanas como estratégia de consolidação do seu domínio na região. Está ainda por estudar em que medida é que esse fenómeno poderá ser o resultado de uma movimentação voluntária da população autóctone, da qual partiria a iniciativa da sua concentração em povoados maiores e menos numerosos, fosse para facilitar a sua própria defesa, fosse como resultado natural da maturação do já longo processo de hierarquização das sociedades proto-históricas.