A rede viária regional

Mapa da Península Ibérica

A rede viária regional

As vias terrestres e fluviais que serviam Tongobriga têm sido apontadas como um dos principais motivos que potenciaram o seu desenvolvimento urbano em época romana.

Não porque o sítio fosse grande produtor de alguma espécie de bem que necessitasse de bom escoamento, uma vez que não lhe são reconhecidas especiais aptidões minerais, agrícolas ou outras. Mas porque, estando situado numa área em que se dá a confluência de vários eixos, dispôs das condições ideais para crescer como ponto de encontro e local de passagem.

A principal via de ligação desta área com o exterior era, sem dúvida, o rio Douro, o qual constituiu uma via fundamental de ligação entre o interior e o litoral atlântico. Foi considerado por Plínio o Velho como “um dos maiores rios da Hispania” e capaz, segundo Estrabão, “de ser navegado por grandes navios”. A investigação arqueológica tem comprovado a importância económica deste rio através da identificação de vários locais onde existiram instalações portuárias, particularmente ativas no Baixo Império e Antiguidade Tardia.

Nunca, em época romana, o Douro mereceu a construção de pontes. Mas são vários os locais onde, tradicionalmente, se fazia a sua travessia. Para citar apenas as mais próximas de Tongobriga, qualquer uma delas com vestígios romanos nas proximidades, apontam-se Entre-Os-Rios / Foz do Tâmega, Várzea do Douro / Foz do Paiva, Porto Manso / Porto Antigo, Aregos, Frende / Porto de Rei e Barqueiros / Barrô. Não há, porém, unanimidade entre os que se dedicam a este tema sobre qual seria a travessia mais importante.

Naturalmente, a importância económica do rio Douro para Tongobriga dependia da existência de ligações, fluviais ou terrestres, entre um e outro.

A ligação fluvial seria garantida pelo Tâmega, que tinha condições de navegabilidade entre a sua foz, onde se situava Tameobriga (Várzea do Douro), e um local ainda hoje designado Portinho. Quer o Portinho, quer o importante vicus de Várzea do Douro, têm sido considerados como instalações portuárias fundamentais para o desenvolvimento de Tongobriga.

Quanto às ligações terrestres, eram várias. Uma delas sobressai pelo facto de integrar no seu percurso a monumental ponte romana de Canaveses – por alguns autores atribuída ao imperador Trajano – e por ter merecido a marcação com marcos miliários, dos quais se conhecem cinco, todos datáveis dos séculos III ou IV (um em Tuias, dois no Freixo, um em Soalhães e um na Carreirinha, Baião).

Este troço de estrada imperial, marcado por miliários entre o Tâmega e o Douro, faria a ligação entre a já citada ponte de Canaveses e um dos já mencionados locais de travessia do Douro, e é por muitos considerada como parte integrante de uma importante via, ligando duas capitais provinciais, Bracara Augusta (hoje Braga) e Emerita Augusta (hoje Mérida). Não há, porém, provas inequívocas de que esse itinerário tenha sido projetado enquanto percurso único e contínuo, o qual não consta do célebre Itinerário de Antonino nem de qualquer outra fonte clássica. Ele é, no entanto, abundantemente referido na bibliografia, embora haja autores que lhe atribuem outros percursos totalmente diferentes.

Lino Tavares Dias, que estudou de forma mais aprofundada a viação romana nesta região, associando o traçado de antigos caminhos à concentração de vestígios de povoamento romano nas suas proximidades, aponta ainda a existência de outras vias no aro de Tongobriga. Para além das já citadas ligações entre Braga e Mérida e de Tongobriga a Várzea do Douro, é apontada, entre outras, uma estrada que, por Amarante, levava à travessia da serra do Marão.