
A(s) muralha(s)
Já há muito tempo se conheciam referências documentais a uma muralha em Tongobriga. Pela sua monumentalidade, extensão e configuração arredondada, como que abraçando toda a aldeia, essa muralha manteve-se à vista de todos, pelo menos, até finais do século XVIII, sem que se tenha perdido, sequer, a noção da sua função original. Mas só em 2005 ela foi de novo trazida à luz do dia, com as escavações arqueológicas realizadas ao abrigo de uma colaboração com a Universidade de Brown (Rhode Island, EUA ).
A sua descoberta resultou da conjugação de vários fatores: a identificação de uma nova área de necrópole nas imediações das termas romanas; a constatação de que o perímetro habitado de Tongobriga respeitava o princípio da não sobreposição com o espaço de necrópole; e a notória alteração da topografia local entre o espaço dos vivos e o espaço dos mortos, alteração essa que era visível até ao nível da organização e orientação dos socalcos e dos campos agrícolas.
A linha que separa as duas áreas acima descritas estava bem marcada no terreno por um extenso muro moderno que se distinguia de todos os outros, não só pela sua orientação como também pelo facto de ser substancialmente mais alto. A conclusão não poderia ser outra: esse muro escondia uma estrutura anterior, que, na Antiguidade, sempre delimitou o perímetro habitado, separando-o da necrópole. Estava descoberta uma muralha em Tongobriga.
A definição integral do circuito amuralhado permitiu aferir a sua relação com o espaço classificado como Monumento Nacional: no tramo Norte, o limite da área classificada e a muralha são genericamente coincidentes; nos tramos Sul e poente a área classificada excede consideravelmente o espaço amuralhado, abrangendo também o forum e as termas; enquanto que a nascente, a muralha abrange uma área situada abaixo da estrada nacional 211, excedendo, por conseguinte, o perímetro classificado.
Este circuito amuralhado delimitava uma área que excede os 13 ha. e tinha um perímetro total de aproximadamente 1,5 km., assente numa estrutura com cerca de 1,7 m. de espessura, de paramento duplo com miolo constituído por pedra miúda. Era acompanhado, pelo exterior, por um fosso, ainda observável nas vertentes Norte e Sul. A parte que foi escavada, já reduzida aos alicerces, revelou sinais de ter sido várias vezes alvo de reparações e reconstruções, realizadas sobre uma construção que, na sua base, tinha um aparelho de construção “em espinha”.
Até ao momento não se identificou com absoluta certeza nenhuma das portas que se abriam nesta cintura de muralhas. O prolongamento dos principais eixos N–S e E–O que ainda permanecem na topografia e no ordenamento da atual aldeia do Freixo apontam para a possível existência de quatro portas: a Norte e a Sul coincidindo com os pontos em que a rua principal interseta a linha amuralhada e a Este e a Oeste no prolongamento de um caminho perpendicular àquele, que passa sensivelmente no centro do perímetro amuralhado.
A confirmação da existência de mais muralhas em Tongobriga carece ainda de estudos mais aprofundados. A topografia e a orientação das construções sugerem a possibilidade de um outro circuito, em torno do núcleo central da aldeia. E tem sido apontada como certa a existência, na encosta Sul, de um outro circuito, mais exterior, em forma de bolsa, construído como forma de abranger a área em que se situam o forum e as termas. Porém, essa possível muralha exterior poderá ser parte integrante da estrutura do primitivo castro, já que permitiria, à semelhança dos seus congéneres, delimitar um Muralha de Tongobriga (APF) espaço aberto de uso essencialmente agrícola e pecuária.