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O território e o povoamento

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O território e o povoamento

São várias as formas de definir o território de um lugar central, dependendo da natureza – política, económica, social ou religiosa, da sua centralidade, e da metodologia utilizada.

À escala regional, o território pode ser uma área perfeitamente delimitada, no caso de estarmos a falar, por exemplo, de um território de natureza política, correspondente à área administrada por uma cidade capital de civitas, por sua vez integrado no território de um determinado conventus e numa dada provincia; o qual, não raras vezes, tem correspondência genérica com um território de natureza étnica, um populus de origem pré-romana, mais tarde assimilado e convertido pela administração romana. Podemos estar a falar de um território de natureza tributária, em que todos os seus habitantes pagam impostos a uma mesma entidade fiscal; ou a um território militar, cuja defesa compete a um determinado corpo de legionários; ou ainda a um território de natureza religiosa, como acontece com as paróquias criadas já no contexto da desagregação do Império, as quais funcionam como extensões do poder episcopal e, como tal, estão por sua vez integradas em outros territórios mais vastos, as dioceses.

Há ainda muitas outras formas de definir um território. Entre as mais comuns, contam-se os territórios de natureza económica: aqueles espaços que podem ser percorridos diariamente por quem trabalha na terra, as áreas que são acessíveis a quem se desloca diariamente a um centro urbano, ou ainda a região dentro da qual todos os seus habitantes recorrem a um mesmo mercado para se abastecerem ou venderem os seus excedentes.

Na ausência de estudos e dados mais concretos, podemos recorrer a modelos geométricos que nos sugerem uma determinada repartição equitativa do espaço entre povoações de igual categoria; ou modelos geográficos, que têm em linha de conta, por exemplo, a orografia, a hidrografia e a rede viária.

No caso de Tongobriga, os aprofundados estudos que são necessários para podermos avançar com propostas fiáveis acerca dos seus “vários territórios”, estão ainda por fazer. Resta-nos, pois, pegar nas evidências da geografia regional e no que se conhece sobre o seu povoamento em época romana para podermos fazer alguma luz sobre este assunto.

Do ponto de vista da oro-hidrografia regional de Tongobriga, são marcantes, a Sul, o rio Douro – que, inclusive, separava administrativamente a Callaecia da Lusitania – e a nascente, o majestoso maciço da serra do Marão, com os seus mais de 1400 metros de altitude. A Norte e poente, o Tâmega – ainda muito próximo – e o couto mineiro romano das serras de Valongo e Paredes – já demasiado longe – não deverão constituir limites territoriais para Tongobriga.

No que diz respeito ao povoamento castrejo, a nível regional, só existem mais três “citânias” de grandes dimensões: o Monte Mozinho (Penafiel), cuja área estimada se aproxima dos 20 ha, e os Castros de Aradros e Quires (Marco de Canaveses), que nunca foram alvo de estudos sistemáticos. Todos estes grandes povoados, com uma equidistância de 8 a 10 km., poderiam efetivamente fazer parte de uma rede de “lugares centrais” que repartissem entre si o território.

Já ao nível do povoamento romano, existiu uma densa rede de pequenos casais agrícolas e de várias villae, instaladas em cada um dos férteis vales agrícolas da região – a maior parte delas, aparentemente, testemunhos de um povoamento já tardio, e datáveis do Baixo Império.

Quanto ao desenvolvimento de núcleos urbanos, e com exceção de Tongobriga, não parece ter sido uma vocação desta região em época romana. Conhecem-se escassos vici, entre eles Várzea do Douro (Marco de Canaveses), Gatão (Amarante) e Meinedo (Paredes), todos atestados documental e/ou epigraficamente. Poderão também tê-lo sido Carvalho de Rei e Lomba (Amarante) Santa Marinha do Zêzere e Esmoriz (Baião) e Croca (Penafiel). Estes núcleos secundários podem, inclusive, ser tomados como pontos de referência para a delimitação de um dos diferentes territoria de Tongobriga.